DESABAFO DE UMA PROFESSORA EM DIAS DE PANDEMIA
Antes de sair de casa coloco a máscara.
Azul cirúrgica ou em tecido colorido.
O acessório que nunca falta.
Saio de casa, chego ao carro e, ainda antes de o ligar, desinfeto as mãos.
Afinal, usei o elevador e as portas do prédio.
Tiro a máscara durante a viagem. Ainda quero acreditar que o interior do meu carro é um casulo seguro.
Chego à escola e coloco novamente a máscara ajeitando-a bem no nariz.
Antes de sair respiro fundo.
Lá fora o mundo aguarda-me.
Engulo o medo e saio.
Entro ao portão.
"Bom dia dona Nazaré!"
Desinfeto as mãos.
"Bom dia colega!"
Mas quem é este colega? Todos de máscara, ainda não os consigo distinguir. Terá de ser por algum pormenor no cabelo ou no olhar.
Chego à sala de aula.
"Bom dia turma!"
Desinfeto as mãos.
Cerca de 25 pares de olhos curiosos e traquinas desejam-me um bom dia enquanto desinfetam as mãos.
Uma aula já não é apenas uma aula.