segunda-feira, 1 de novembro de 2021

Ainda...

"No matter how I fight it can't deny it just can't let you go..."

Depois de tudo ainda acreditei.
Acreditei que os sorrisos eram para mim. 
Que os olhares me eram dirigidos. 
Que o riso na tua voz era só meu.
Que as palavras me eram dedicadas.
Fiquei na sombra, como sempre pediste, por acreditar.
Cada toque da tua pele na minha parecia tão raro.
Cada sussurro apaixonado era como um segredo íntimo.
Cada beijo que davas tornava a realidade num sonho. 
Eu acreditava.

sábado, 23 de janeiro de 2021

Vida Desinfetada

DESABAFO DE UMA PROFESSORA EM DIAS DE PANDEMIA

Antes de sair de casa coloco a máscara.
Azul cirúrgica ou em tecido colorido.
O acessório que nunca falta.
Saio de casa, chego ao carro e, ainda antes de o ligar, desinfeto as mãos.
Afinal, usei o elevador e as portas do prédio.
Tiro a máscara durante a viagem. Ainda quero acreditar que o interior do meu carro é um casulo seguro. 
Chego à escola e coloco novamente a máscara ajeitando-a bem no nariz.
Antes de sair respiro fundo.
Lá fora o mundo aguarda-me.
Engulo o medo e saio.
Entro ao portão. 
"Bom dia dona Nazaré!" 
Desinfeto as mãos. 
"Bom dia colega!" 
Mas quem é este colega? Todos de máscara, ainda não os consigo distinguir. Terá de ser por algum pormenor no cabelo ou no olhar.
Chego à sala de aula.
"Bom dia turma!" 
Desinfeto as mãos.
Cerca de 25 pares de olhos curiosos e traquinas desejam-me um bom dia enquanto desinfetam as mãos. 
Uma aula já não é apenas uma aula.