segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Paris

"Sous le ciel de Paris..."

E lá estava ela.
O olhar brilhante, o sorriso doce, as madeixas douradas a ondular ao sabor da brisa, o casaco vermelho que combinava com a boina da mesma cor, o corpo esbelto e perfeito.
Na ponte sobre o rio Sena lá estava ela, a contemplar a Torre Eiffel como sempre fazia ao fim da tarde.
A neve caía-lhe sobre os ombros como se de algodão se tratasse e ela não se importava com o frio cortante que se fazia sentir naquele Inverno parisiense.
E, como sempre, aqui estou eu sentado na escadaria à espera que ela chegasse, apenas para a contemplar.
Apenas a olhar, sem a poder tocar, sem lhe poder dizer que o meu coração se prendeu a uma estranha.
O meu coração prendeu-se a ela.
Mas hoje foi diferente.
Hoje, depois de olhar a Torre, ela olhou para mim.
O seu olhar chocou com o meu e timidamente, ela sorriu.
Sorriu para mim. E aproximou-se.
"Posso sentar-me aqui?"
Sem outra reacção, apenas acenei a cabeça em sinal afirmativo.
O meu corpo estremeceu quando ela se sentou e o seu perfume suave invadiu o espaço.
"A vista daqui é linda. Todas as tardes venho até aqui para olhar para a Torre Eiffel e ver o anoitecer cair sobre ela."
"Eu sei. E eu venho aqui só para te olhar e comprovar que o teu brilho é maior que o das estrelas", pensei.
Sorri para ela e apresentei-me.
A conversa sobre Paris e a sua beleza prolongou-se e a noite tinha chegado.
"Amanhã irei voltar. Encontro-te aqui?"
Ela queria voltar a estar comigo.
O meu coração quase explodia com tanta felicidade.
A semana passou-se com encontros diários, na escadaria com vista para o rio e para a Torre.
E eu sentia-me apaixonado.
Numa dessas tardes ela contou-me porque olhava sempre para a Torre Eiffel ao anoitecer.
"Um dia gostava de ir até ao cimo da Torre e olhar as estrelas. Acredito que de lá lhes poderia tocar e que os meus desejos se realizariam."
"E qual é o teu desejo?", perguntei.
"Neste momento...tu".
Os nossos olhares fixaram-se, aproximando os nossos rostos e fazendo com que os lábios se tocassem.
Que beijo tão suave e doce.
Eu amava-a. Eu queria tornar os sonhos dela realidade.
Uma tarde, antes de nos despedirmos, sussurei-lhe ao ouvido.
"Esta noite vais mais alto. Esta noite vais tocar nas estrelas."
E entreguei-lhe uma chave. Uma chave para a Torre.
Os olhos dela ganharam um brilho maior que o do sol.
Abraçou-me.
"Obrigado! E tu? Vens comigo? Queres ir mais alto e sentir como é tocar numa estrela?"
"Eu já senti. Eu já te toquei."
E assim nos despedimos.
Na noite cerrada, caminhei em direcção à Torre Eiffel.
Parei na ponte onde sempre a costumava ver.
Olhei para o topo da Torre e vi uma silhueta.
Uma silhueta esbelta e mais brilhante do que o anel de diamante escondido no meu bolso.
Tocava nas estrelas pedindo os seus desejos. Estava lá, mais alto.
A mulher a quem entreguei o meu coração.
A mulher que amava.

"Acabou?"
"Sim."
"Mas ele foi ter com ela?"
"Será que foi? Será que não foi?"
"Vá, diz-me."
"Tu irias?"
"Não."
"Porquê?"
"Porque eu não quero alguém que brilhe mais que uma estrela. Eu quero a minha estrela. Eu quero-te a ti."
"Então tens aí a tua resposta."

H.N.

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