sábado, 3 de junho de 2023

Promessas

"What about your your 10, 000 promises? That you gave to me..."

Não me prometas o amanhã, se nem o hoje consegues cumprir.
De que serve hoje esse olhar ávido por me ter, se amanhã o teu olhar irá pousar noutro corpo?
Para que me arrepias hoje com o cálido deslizar dos teus dedos na minha pele, se amanhã o teu toque procurará novos caminhos para percorrer?
Diz-me porque hoje insistes em espalhar o teu perfume na minha cama, se amanhã estarás perdido num aroma que não o meu
Explica-me a razão para hoje te deliciares com os meus beijos, se amanhã os teus lábios estarão a escrever histórias noutra boca?
Oh, e o pior nem é isso! O pior é hoje fazeres-me rir.
Porque me fazes rir hoje, se amanhã me farás chorar?
E, no entanto, eu deixo que o teu olhar pernoite em mim, que os teus dedos descubram os meus poros, que o teu odor percorra a minha casa, que me enchas de beijos infinitos.
E rio-me. Rio-me muito contigo, até me doer a barriga e as bochechas me ficarem dormentes.
Talvez seja essa a parte mais dolorosa. Rir.
Guardo o meu riso para momentos de felicidade pura, que quero que a memória guarde e que perdurem na eternidade do tempo. Mas os risos que partilhamos são efémeros como gotas de água numa tarde de verão.
Hoje prometes que amanhã continuarás comigo, mas ambos sabemos a verdade. Não me pertences.
Pobre coração o meu, que teima em acreditar em cada poema que ondula na tua voz procurando dançar ao ritmo das palavras. Mas esta será sempre uma dança a solo, um só corpo bailando ao ritmo da melancólica melodia que criaste.
Quero libertar-me das tuas amarras. Sacudir os teus sonhos até serem apenas grãos de areia, empurrar-te para o lado mais solitário da lua, gritar-te que nada te irá salvar e que já nem o teu abraço ansioso pelo meu corpo te poderá valer!
Hoje peço-te, mais uma vez, que não me prometas o amanhã.
Chega de hojes, amanhãs e promessas despidas de verdade.
Mas olhas para mim e a coragem esfumasse. Tocas-me e perco a noção dos sentidos. Beijas- me e desfaço-me como a espuma do oceano.
Tu continuas. E eu continuo.
Eu a acreditar. Tu a prometer.
Continuas a prometer, numa ilusão difusa a que me mantenho presa.
Continuas hoje a prometer o amanhã.
Continuas a prometer o que nunca me irás conceder. O teu coração.

(Publicado originalmente na edição de maio de 2023 do Jornal de Cá)

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