"I know we'll make it anywhere away from here. And we'll run for our lives."
Saio a correr pelo enorme portão verde aberto à espera que
por ele entrem e não que saiam.
Muito menos eu. Ainda menos a correr.
Seguro de lado o vestido, mais para não cair do que para não
o sujar.
Ouço as vozes dentro de casa chamarem-me, os cães ladrarem
em alvoroço e o som de portas a baterem.
Já do lado de fora encosto-me ao muro de pedra cinzenta que
as heras tingem de um verde vivo.
Preciso de me afastar dali rapidamente.
Sempre junto ao muro, sigo em direção ao campo.
É arriscado, alguém pode ver-me ou ouvir o barulho mas
prefiro arriscar.
Chego lá e vejo três belos cavalos. Dois castanhos e um
preto, calmos, de crinas a balançarem ao sabor da leve brisa.
Ainda junto ao moro tento atrair a sua atenção, chamando-os.
Avanço em direção aos cavalos e aproximo-me do de pelo preto
brilhante.
Toco-lhe enquanto lhe falo, acaricio-lhe o focinho, deixo
que ele sinta que pode confiar em mim. E em troca ele deixa-me montá-lo.
Subo para cima do cavalo, ajeito o vestido e parto pelo
campo fora.
Entro numa zona de floresta, seguindo por um caminho
estreito que me embrenha cada vez mais na vegetação verde.
As vozes ficaram distantes, já estou longe o suficiente e
posso permitir que o cavalo abrande.
Seguimos a passo calmo por entre árvores frondosas e
acaricio a crina do cavalo.
Reparo no meu braço que está sujo de terra e de algum
verdete. Olho melhor e vejo que o outro braço e as pernas estão das mesmas
cores.
Não posso aparecer assim!
Conheço bem a zona, desde criança que percorro os trilhos da
floresta, e sei como resolver a situação.
Guio o cavalo para fora do trilho em que seguíamos e levo-o
por entre troncos grossos e ramagens verdes.
Cerca de 10 minutos depois chegamos a uma zona onde corre um
ribeiro de água límpida, que forma uma pequena lagoa azulada criada por uma
cascata de pequenas dimensões.
Desmonto o cavalo e encaminho-o para junto do ribeiro.
Cansado bebe água.
Olho em redor. O local é recôndito, não há ninguém nas
proximidades, apenas se ouve o som da água e dos pássaros a chilrear.
Quem me procura não se vai lembrar de vir até aqui. E se se
lembrarem ainda vão demorar a cá chegar e já terei partido.
Dispo o vestido e deixo-o cair aos meus pés. Com cuidado
pego nele e observo-o. Não está sujo, apenas na zona da bainha mas nada que se
note. Coloco em cima de uma pedra, onde não possa ficar sujo ou estragar-se.
Dispo a roupa interior e deixo-a junto do vestido.
Molho os pés na pequena lagoa. A água está fresca mas de um
modo revigorante.
Lentamente entro na água, vou molhando as pernas, a barriga,
os braços e retirando a terra e o verde da erva que tinge a minha pele.
A lagoa é pouco profunda e a água fica-me abaixo da cintura.
Baixo-me, molhando todo o corpo.
Inclino-me para trás e molho o cabelo.
A água fresca arrepia-me a pele e sinto-me refrescada.
Deixo o meu corpo flutuar à tona de água enquanto me perco
em pensamentos.
Fugi de casa. Fugi da minha família. Fugi da vida que tinha.
E porquê?
Para recomeçar. Recomeçar onde aceitem as minhas escolhas,
onde possa tomar as decisões da minha vida, onde possa ser eu.
Foi extremo mas necessário. Já estava tudo planeado há
quatro meses. Não ia desistir.
Hoje começa a minha liberdade.
O relinchar do cavalo despertou-me e decidi que estava na
altura de continuar a minha jornada.
Saí de água e escorri o cabelo. Não tinha onde enxugar o
corpo molhado. Mas a solução estava mesmo ao meu lado.
Abracei o cavalo e deixei que o seu pelo negro limpasse as
delicadas gotas que cobriam o meu corpo nu. O calor do seu corpo era
reconfortante e senti-me protegida, segura.
Já seca voltei a vestir a roupa interior e o grande vestido
que tinha escolhido trazer.
O cabelo teria de secar ao calor do sol e ao sabor do vento.
Montei o meu cavalo alado e partimos rumo ao meu futuro.
Cavalgamos sempre junto ao ribeiro, em direção ao rio onde
desaguava.
O caminho era curto e eu conhecia-o bem. Já o tinha
percorrido dezenas de vezes nestes últimos meses.
Já junto ao rio avistei ao longe o meu destino.
Sorri e ordenei ao cavalo que cavalgasse mais rápido.
O vento batia-me na face e soprava os meus cabelos.
Um sorriso gigante desenhava-se no meu rosto à medida que
nos aproximávamos.
Parei o cavalo junto de uma capela situada à borda do rio.
A capela era antiga, quase uma ruína e passava despercebida
aos mais desatentos.
Era utilizada para os pescadores fazerem as suas preces e
para missas e celebrações ocasionais.
Hoje era uma dessas ocasiões.
Desci do cavalo e encaminhei-o comigo até junto da entrada
da capela.
Acariciei-lhe o focinho e agradeci-lhe ter sido meu
companheiro de fuga.
Ajeitei o longo vestido branco e o cabelo que a natureza se
tinha encarregue de pentear.
Sentia-me uma princesa, dona do meu próprio conto de fadas
que eu começara a escrever hoje.
Entrei pela capela.
Vi o padre sorrir-me ao centro do altar e incentivar-me a
entrar agitando a mão.
E vi-o.
Vi o homem por quem me apaixonava a cada dia mais.
O homem que roubara o meu coração, que me fizera cometer
esta loucura, que me permitia ser livre, que me deixava ser eu.
Vi o amor da minha vida.
E tudo fez sentido.
Avancei determinada até ele.
Olhámo-nos nos olhos, um olhar que perdurará na eternidade.
E sorrimos.
E eu soube que tudo estava certo.
Foi por amor.
É amor.
“Estamos hoje reunidos para celebrar o matrimónio entre…”
OPA..... Que lindo lindo lindo lindo
ResponderEliminarObrigada! Ainda bem que gostaste!:D
EliminarTão bonito! É tão bom ler coisas assim logo pela manhã :) Um beijinho!
ResponderEliminarhttps://healthyfoodandme.wordpress.com/
Ainda bem que gostaste Sara!
EliminarUm pouco de romance pela manhã dá sempre alegria ;)
Beijinho
Simplesmente magnífico. Parabéns Helena adorei :)
ResponderEliminarObrigada Ana! Fico feliz por teres gostado! :D
EliminarBeijinho
Obrigada Monyque! Ainda bem que gostaste!
ResponderEliminarVou passar pelo teu blog ;)
Muito, muito giro :)
ResponderEliminarAdorei!
Obrigada Francisco! Ainda bem que gostaste! :D
EliminarNão estava nada à espera deste final, adorei! Estava mesmo muito lindo :D
ResponderEliminarBeijinhos,
Dezassete | 5 PENTEADOS SUPER FÁCEIS
Obrigada! Fico muito contente por teres gostado e por te ter conseguido surpreender com o final :D
EliminarBeijinhos
Helena, tens um jeito tremendo para escrever! Adorei a forma como descreveste a forma como o cavalo "aquece" a pessoa.
ResponderEliminarContinua! :)
Obrigada Rui! Sabe tão bem ler essas palavras! Espero continuar a fazer um bom trabalho e a proporcionar bons momentos de leitura :)
EliminarTu escreves tão bem!! Só paro quando chego ao final dos teus textos...fico vidrada!! Parabéns querida <3
ResponderEliminarObrigada Vanessa! Que comentário tão bom de se ler!
EliminarFiquei muito feliz por teres gostado! :D
Beijinho
Ai opá que lindo! Fiquei vidrada com o texto!
ResponderEliminarObrigada! Fico muito feliz por teres gostado! :D
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